AS (NÃO) EVIDÊNCIAS MATEMÁTICAS DE HILDA HILST: UMA LEITURA INTERPRETATIVA DA OBRA COM OS MEUS OLHOS DE CÃO

Abstract

Nesta pesquisa, realizou-se uma leitura interpretativa a partir da análise do uso de termos e conceitos oriundos da matemática e da física em Com os meus Olhos de Cão (1986) de Hilda Hilst. Para tanto, identificamos tais metáforas físico-matemáticas e apresentamos possíveis interpretações, explorando a questão das linguagens literária e matemática quanto aos possíveis motivos de sua utilização. O método de desenvolvimento da pesquisa foi a análise e a interpretação de texto, com o apoio de uma revisão bibliográfica. O referencial teórico considera a coadunação entre as ciências exatas e o conhecimento humano, empreendida por Bohr (1995), Capra (1983), Rovelli (2018) e Russell (1957), mas também a investigação da figura do outsider por Wilson (1985) e da opressão social por Weil (2020), além das percepções crítico-literárias de Adorno (2003), Bosi (2003) e Calvino (1990). A partir das interpretações, percebemos que o que seria objetivo quanto linguagem matemática adquire múltiplos significados ao tornar-se uma obra literária. E que há um potencial paralelo entre as metáforas físico-matemáticas, a denúncia das estruturas e juízos sociais e a valorização da racionalidade. Observamos que a autora tematizou anteriormente a física em sua peça teatral O Novo Sistema (1968), portanto aproximamos e diferenciamos os seus protagonistas e os usos dessa ciência em ambas as obras literárias. As oposições, recorrentemente tematizadas, marcam uma possível crítica de Hilst a ver o mundo de forma fragmentada, apontando a busca da comunhão de saberes como uma tentativa de representar, e entender, o humano.