A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA EM UM CONTEXTO DE VULNERABILIDADE SOCIAL: A VISÃO DE UMA MULHER EGRESSA AO CÁRCERE

Abstract

Considerando a gravidez na adolescência como um fator de risco, principalmente quando falamos de meninas de classe social desfavorável e em condição de vulnerabilidade, a conjuntura se torna, de fato, um problema de saúde pública mundial, mas principalmente em países da América latina e especialmente o Brasil, já que, é possível observar um nível extremamente alto de evasão escolar por conta de gravidez precoce, além de fatores de risco como a dificuldade de ingresso no mercado de trabalho formal. As condições sociais que não puderam constituir um fator de proteção para as adolescentes no campo da educação sexual, agravam ainda mais as consequências da gestação precoce de modo que, considerando o cenário socioeconômico, histórico e cultural, encontram na criminalidade uma oportunidade de subsistência. Pensando nisso, a presente pesquisa teve por objetivo entender os mecanismos de vulnerabilidade social que viabilizam a entrada de mulheres jovens, que engravidaram na adolescência, no mercado de drogas e outros delitos. Para esse propósito, investigou-se a perspectiva de uma mulher egressa ao sistema penal sobre as consequências da gestação imatura e como ela a relaciona a seu histórico criminal, apoiando essa análise a partir da ótica da Psicologia Sócio Histórica e, consequentemente, dos postulados marxistas, através do subsídio oferecido pelo instrumento dos Núcleo de Significação. As concepções dos núcleos propõem um caminho na tentativa de apreender, diante do discurso do sujeito, a constituição dos sentidos a partir dos aspectos teóricos-metodológicos do pensamento e linguagem desenvolvidos por Vigotski. Os resultados obtidos dentro desse processo e frente a transcrição da entrevista realizada com a participante deste estudo (uma mulher egressa ao sistema penal com a prévia experiência de gestação adolescente) possibilitaram a estruturação de 4 (quatro) núcleos para análise, os quais, sumariamente levantaram questões relacionada aos processos de instrução quanto a sexualidade, às redes de apoio nos momentos prévio, presente e posterior a gravidez precoce em situação de vulnerabilidade social, às vivências subjetivas desta mulher frente à gestação e à prática de delitos e as consequências decorrentes dessa conjuntura. Sumarizando os achados desta pesquisa, pode-se dizer que a relação entre a gravidez adolescente e a vinculação dessas mulheres à criminalidade não se dá de forma linear pelo princípio de causalidade, isto é, após a análise crítica de toda historicidade não só da subjetividade, mas da estrutura social, podemos perceber que o mesmo mecanismo que penaliza essas mulheres, também criminaliza sua própria existência, ou seja, não e à toa que as características das mulheres encarceradas sejam tão semelhantes às das meninas gestantes, visto que dentro da sociedade de classes, onde o predomínio são os interesses do estado burguês, o inimigo é sempre o mesmo: a pobreza.